sexta-feira, 5 de março de 2010

Biografia de Ana de Castro Osorio

Ana de Castro Osório, filha do juiz João Baptista de Castro e de Mariana Osório de Castro Cabral de Albuquerque, nasceu em Mangualde a 18 de Junho de 1872 num ambiente culturalmente privilegiado. Após uma infância e adolescência passada na sua terra natal, foi em Setúbal, para onde se muda com a família em 1895, que iniciou a sua carreira literária e política. Em 1898 casou com Francisco Paulino Gomes de Oliveira, poeta, jornalista, editor e activista republicano.
Sem nunca ter frequentado o ensino formal, Ana de Castro Osório cedo se lançou na edição de uma Colecção Para Crianças (Abril de 1897), actividade que a iria tornar nacional e internacionalmente conhecida. Com esta colecção, pretendeu criar uma literatura infantil de inspiração portuguesa, com contos próprios para aquela faixa etária. Assim, a Biblioteca Infantil Ilustrada obteve logo no ano da sua edição o Grande Diploma de Honra na Exposição da Imprensa. Desta biblioteca foram publicados 18 volumes contendo histórias populares portuguesas, narrativas doutrinárias e educativas, contos originais, peças de teatro, poesia. Como escritora, para além de ter feito recolha oral de contos tradicionais um pouco por todo o país, traduziu contos de escritores internacionais como os irmãos Grimm, C. Perrault, H. C. Andersen, Rosália Hoch, A. Stein, Ireida Schuette. Fez incursões pelo teatro infantil ao publicar obras como A comédia de Lili. Foi autora de livros destinados ao ensino primário geral e ensino primário superior, concorrendo ao concurso aberto em 1920 para escolha de manuais escolares com O Livrinho Encantador, Os Nossos Amigos, Lendo e Aprendendo, Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda e A Minha Pátria. Na memória justificativa com que se apresentou ao referido concurso, explicava que não “se constrói uma sociedade, nem se reforma uma Pátria se as crianças não forem desde os primeiros anos dirigidas, instruídas e disciplinadas para um alto fim de grandeza e idealismo superior da Pátria a que pertencem (…)”
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Desde muito cedo Ana de Castro Osório enveredou pelo jornalismo, não só publicando muitos artigos que abordavam temas ligados às crianças, às mulheres e à defesa da pátria, mas também dirigindo periódicos como Sociedade Futura (1902), O Jornal dos Pequeninos (1907-1908), A Mulher e a Criança (1909-1910), A Semeadora (1915-1918). Desempenhou ainda um papel relevante no jornal setubalense O Radical (1910-1911).
Em 1907, Ana de Castro Osório filiou-se na Loja Maçónica Humanidades, adoptando como nome simbólico Leonor da Fonseca Pimentel. Feminista empenhada defendeu pela pena e pela acção a educação e instrução das crianças e das mulheres, a independência económica feminina, a igualdade de direitos entre os dois sexos, o acesso da mulher a diversas profissões, o sufrágio feminino restrito, a igualdade de direitos entre os cônjuges, a lei do divórcio e o direito «a salário igual para trabalho igual». Politicamente comprometida, republicana convicta, Ana de Castro Osório considerava que o papel da mulher não podia continuar a resumir-se ao de mãe e esposa, pelo que, para conseguir romper com as dependências tradicionais, a mulher deveria ser economicamente independente, o que implicava uma educação e instrução adequadas e em pé de igualdade com a educação ministrada ao sexo masculino. Os poderes públicos deveriam, portanto, dar uma atenção redobrada à educação feminina pois eram as mulheres as principais educadoras e formadoras das crianças.
Como feminista empenhada, Ana de Castro Osório começou por dirigir, em 1907, o Grupo Português de Estudos Feministas, uma associação feminista ligada ao Partido Republicano Português. A partir de 1908, organiza e dirige a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, constituída unicamente por elementos femininos, que chegando a ter centenas de militantes, tinha por objectivos “orientar, educar e instruir, nos princípios democráticos a mulher portuguesa; fazer propaganda cívica, inspirando-se no ideal republicano e democrático; promover a revisão de leis na parte que interessa especialmente à mulher e à criança; criar escolas infantis, escolas de serviço doméstico, maternidades, casas de trabalho, asilos-escolas e tudo quanto seja próprio para proteger e educar a criança e levantar a mulher da situação deprimente em que está a sociedade portuguesa”
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Ana de Castro Osório considerava a República, não como o regime ideal, mas como aquele que poderia trazer nova esperança para o país, sobretudo nos planos social, educativo e moral. Assim, apoiou a Lei do Divórcio e as Leis da Família, da autoria de Afonso Costa e publicadas durante o primeiro governo provisório republicano, empenhando-se na edificação de um ensino e de uma educação laicos, modernos e racionais, opondo-se ferozmente ao ensino congregacionista que considerava fútil.
Quando as posições na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas se radicalizaram, e as ideias de Ana de Castro Osório colidem, nomeadamente as que se referem ao voto feminino, com as ideias mais radicais e revolucionárias para a época, preconizadas por Maria Veleda, aquela abandonou a presidência da Liga. Em 1911 acompanhou o marido ao Brasil que fora nomeado cônsul em S. Paulo. Antes de partir, fundou com Carolina Beatriz Ângelo a Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista portuguesa. A nova Associação não teve qualquer ligação partidária, devendo a sua existência ao prosseguimento de dois objectivos: reivindicação do voto feminino e análise dos problemas específicos das mulheres. Ao propor-se continuar com a análise dos problemas específicos das mulheres, a Associação, por intermédio da sua fundadora, defendeu a criação de escolas profissionais como a Escola Doméstica para formação de «professoras particulares» e «criadas» e Escolas Agrícolas Femininas. Ainda por iniciativa de Ana de Castro Osório, a Associação veio a filiar-se na Internacional Womem Suffrage Aliance.
Em 1916, retornada do Brasil, foi nomeada subinspectora do trabalho da 1ª Circunscrição Industrial do Ministério do Trabalho, sendo este o único lugar de Estado que exerceu. O seu trabalho em prol das crianças mais necessitadas tornou-se bem evidente no apoio que deu à Obra Maternal, criada no âmbito da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas por Maria Veleda. Mais tarde, procurou lanças as Ligas de Bondade, através do Grémio Carolina Ângelo, que procuravam afastar as crianças da delinquência e da criminalidade. Ana de Castro Osório advogou a criação de creches para filhos das mulheres operárias. Com o deflagrar da 1ª Guerra Mundial, fundou a associação Pela Pátria, com o fito de trabalhar junto das famílias e dos soldados mobilizados e em 1916 participa na organização da Cruzada das Mulheres Portuguesas.
Ana de Castro Osório que esteve, desde o primeiro momento, com os defensores da entrada de Portugal no primeiro grande conflito mundial do século XX ao lado de países como a França, a Inglaterra e a Bélgica, passou a escrever quase em exclusivo, sobre a defesa da Pátria, que considerava a grande questão nacional. Contudo, vai-se desiludindo com a República, pois esta não lhe atribuiu nenhum papel relacionado com a instrução, com a demora na abertura de concurso para a provação dos novos manuais escolares e pela aposentação forçada de seu pai.
Politicamente, se em 1915, Ana de Castro Osório criticou abertamente a ditadura de Pimenta de Castro, em 1918 afastou-se do Sidonismo, por considerar que Sidónio traira a Pátria ao governar o país com a ajuda daqueles que não quiserem partir para a guerra. Colaborou, em 1919, na difusão do Manifesto Nacionalista de que eram co-autores os seus dois filhos. Três anos depois, na sequência da prisão dos filhos envolvidos no movimento nacionalista de 8 de Junho, passou a defender um regime presidencialista, que pusesse cobro ao estado em que o país se encontrava. Ana de Castro Osório desiludira-se com a República, que apelidara de incompetentes, uma vez que o povo continuava, como na Monarquia, sem instrução e assistência. Na década de 20, a escritora e feminista deixava-se tocar pela onde de Nacionalismo que submergia Portugal, continuando, contudo, racionalista e defensora da liberdade de raciocínio e “incapaz de ter uma religião formalista e dogmática”
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A 23 de Março de 1935, com 62 anos de idade, Ana de Castro Osório morria em Lisboa. O seu funeral foi acompanhado por personalidades bem diferenciadas como Fernanda de Castro e Maria Veleda, Regina Quintanilha, João de Barros, António Sérgio, Rodrigues Miguéis, Aquilino Ribeiro, Hernâni Cidade.

Nota: para a elaboração deste artigo, foi consultada a seguinte biografia ESTEVES, João, Maria Veleda, in Dicionário de Educadores Portugueses, Edições Asa, 2003, pág.1019 a 1025

[1] Citado por João Esteves, Ana de Castro Osório, in Dicionário de Educadores Portugueses, pág. 1022
[2] Citado por João Esteves, Ana de Castro Osório, in Dicionário de Educadores Portugueses, pág. 1023/1024
[3] Citado por João Esteves, Ana de Castro Osório, in Dicionário de Educadores Portugueses, pág. 1025

10 comentários:

  1. esta muito bem foi uma ajuda espectacular para o meu trabalho esta muito completo :) 8D

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  2. Eu estou a fazer um trabalho na escola desta escritora

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  3. por favor, nao podiam ter falado de acontecimentos de 1905? :/

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  4. ela e minha tetravó xD!

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  5. Tá bom, completei o meu trabalho com esta ajuda ! Obg xd

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