quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Trabalho da aluna Cláudia Fernandes

A MINHA FAMILIA MATERNA NO SÉCULO 19

Os meus tretavôs maternos Júlio e Rosa Grego, viviam em Sintra e tinham um restaurante e uma pensão na Praia das Maçãs.
Foram dos primeiros edificadores da Praia das Maçãs.
Esta e uma cópia de um postal e do fim do século 19. Nele estão os meus tetravôs com a minha trisavó Bina ao colo.
O jornal Correio de Sintra, em 2 de Abril de 1899 noticiava:
“O Sr. Júlio, laborioso e activo proprietário de novo restaurante Flor da Praia das Maças, dotou-o de novos melhoramentos – uns frescos e aprazíveis terraços, abrigo para carros de gado, asseio e boa cozinha”
Foi neste restaurante que se serviu o primeiro banquete que houve na Praia das Maças, em homenagem ao Visconde de Tojal.

O interior da esplanada debruçada sobre a praia foi motivo de uma tela de o pintor José Malhoa. Hoje está no Museu do Chiado, em Lisboa.
Os meus tetravôs eram pessoas influentes na altura, chagaram a privar com o Rei D. Carlos, que era cliente habitual e grande apreciador das especialidades da casa, sendo algumas delas:
“Amêijoas a Bolhão Pato”,”Mexilhões de cebolada”,e”Peixe assado no forno”.
Ainda hoje a minha bisavó faz esses cozinhados, ensinou a minha avo e a minha mãe, eu aprecio especialmente o Peixe Assado no forno, ando a tentar aprender mas ela diz-me sempre que e um segredo de família só posso aprender quando for mais velha.
Os meus tetravôs também eram convidados para algumas festas que o rei D. Carlos dava no palácio da Vila em Sintra.


Esta fotografia foi tirada quando foram a um baile a convite do Rei.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


A Revista Alma Nacional, concebida e fundada por António José de Almeida, foi dada à estampa a 10 de Fevereiro de 1910. Foram editados 39n números, o último dos quais publicado a 29 de Setembro, uma semana antes da queda do regime monárquico.
Esta revista de combate pelo ideário republicano, inscrevia na capa esta inspirada citação de Danton “Depois do pão, a educação é a principal necessidade do povo”.
No editorial do primeiro número, pode ler-se uma evocação ao 31 de Janeiro de 1891, quando o editorialista escreve: "31 de Janeiro e esse fadário errante e vagabundo em que ela anda agora, correndo montes e vales, à espera da encarnação revolucionária que lhe vase, num molde histórico, a essência eterna, imortal”
Ora, Ela – a República – estaria para breve e viria com a chegada do Outono de 1910.
Nota: Todos os números da revista Alma Nacional podem ser consultados online a partir do sítio da Fundação Mário Soares.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ainda sobre o 31 de Janeiro de 1891

DUAS NOTAS

Sobre o Capitão Leitão, permito-me transcrever extractos de um artigo do Dr. Henrique Almeida, com o título Viseu e o Centenário da República – a primeira revolta republicana, publicado do Jornal do Centro, de 29 de Janeiro de 2010.
Os relatos da época de, entre outros, Basílio Teles (Do Ultimatum ao 31 de Janeiro) e de João Chagas (História da Revolta do Porto) dão conta da intervenção, na primeira linha dos acontecimentos, do Capitão António Amaral Leitão, natural de Farminhão. Considerado o chefe militar da revolta, este oficial do Regimento de Infantaria do Porto, então com 44 anos, (…) tornou-se um dos principais rostos do movimento precursor (…).
Entre nós, a acção do militar viseense está assinalado na toponímica local. No início dos anos 90, o executivo camarário prestou homenagem ao capitão Leitão, ao atribui o seu nome a uma rua perpendicular à Rua Alexandre Herculano. A ladear o muro ocidental da Escola Grão Vasco, cruza com aquela a Rua 31 de Janeiro, articulando-se os topónimos. (…)
Uma segunda nota para apresentar a leitura que o historiador Rui Ramos faz do 31 de Janeiro. Para tal, servi-me do artigo que publicou na revista Única, editada com o jornal Expresso, no passado dia 30 de Janeiro.


Conclui então este historiador:
A direcção do PRP [Partido Republicano Português], em Lisboa, distanciou-se da revolta, condenando-a como “inoportuna, insensata e perigosa”. Durante a tarde de 31 de Janeiro, no Chiado, um dos membros do directório, o professor Teófilo Braga, depois Presidente da República, dizia a quem o queria ouvir que o 31 de Janeiro tinha sido feito com “dinheirinho da polícia”.
Os governos não procederam a grandes repressões. Só houve suspensão de garantias no Porto, durante um mês. Os 500 revoltosos capturados, quase todos militares, foram julgados em barcos de guerra ancorados em Leixões (…). Foram condenados pelo crime de rebelião, 3 oficiais, 23 sargentos, 49 cabos e 163 soldados. Ficaram à espera dos perdões que não faltaram: dois anos depois, todos, menos os três oficiais, tinham sido amnistiados (….). O regime ganhou vinte anos. (…) Meses depois da revolta, o Rei visitou o Porto em apoteose. Ninguém então teria previsto que o 31 de Janeiro viesse alguma vez a ser comemorado. Mas a história só se torna previsível retrospectivamente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Regicídio - 1 de Fevereiro de 1908

Das memórias da Marquesa de Rio Maior
Amanheceu lindo o dia 1 de Fevereiro
[Os Reis, acompanhados do Príncipe herdeiro D. Luís Filipe, chegavam nessa tarde a Lisboa regressados de Vila Viçosa]
Quando chegámos ao cais já o sol ia baixo (…). Na sala de espera estavam muitas Damas, No cais, o ministério e numerosos dignitários conversando com o Infante D. Manuel.
Aproximei-me do meu sobrinho Aires de Ornelas, ministro da Marinha, e disse-lhe:
-Por toda a parte se fala em bombas contra os ministros e a Família Real por causa de hoje se ter decretado a suspensão das garantias. Vê lá se mandas examinar o cais. (…)
Estava encostado à porta da sala o Comissário da Polícia, o capitão Dias, a olhar para todos com uma preocupação que não lograva disfarçar! Apareceu nessa altura uma pequena com um grande ramo de flores para a Rainha. O capitão Dias deixou-a entrar não sem, ao que me pareceu, literalmente varar o ramo com os olhos.
Soube-se então que o comboio de SS. MM. tinha sofrido um pequeno descarrilamento e chegava com 40 minutos de atraso (…).
Eram mais de 5 horas quando se avistou ao longe o vapor que se aproximava. (…)Entretanto o vapor estava próximo do cais (…)
O Príncipe gritou de longe para o irmão:
- Sabes? Tivemos um descarrilamento.
El-Rei (…) tinha uma cara um pouco fatigada e parecia triste
A Rainha entrou na sala onde estávamos e recebeu o ramo das mãos da pequenita (…). El Rei, com a Rainha e os Príncipes, subiu para o landau, ordenando que o abrissem
Partiram
Eu fiquei à espera da minha carruagem (…) Também estava junto de nós João Franco, que por sua vez esperava a carruagem.

De repente o António Lavradio exclamou:
- Oh tia, cheira-me aqui a pólvora – e abalou a correr (…) salta para o estribo da [minha] carruagem e grita-me: - Mataram o Rei e o Príncipe (…)
Apareceu um tal Leitão (…) que me disse só de fugida
- Os corpos dos assassinos estão ali. Dizem que um é estrangeiro


Da Biografia de D. Carlos:

A tarde do dia 1 de Fevereiro em Lisboa foi de céu limpo, com sol (…). Por volta das quatro horas da tarde, esperava-se a chegada da família real à estação fluvial do Terreiro do Paço, vinda do Barreiro num dos barcos a vapor que levavam e traziam passageiros de Lisboa para a Estação de Caminhos de Ferro de Sul e Sueste (…). Pouco depois das 5, o vapor D. Luís atravessou finalmente o Tejo, com o rei, a rainha e o príncipe real (…). Quando [desembarcaram] já João Franco lá estava ao lado do Infante D. Manuel, do Infante D. Afonso e de outros ministros. O Rei teve, segundo a Rainha uma “grande conversa com Franco (…) Tudo Parecia desenrolar-se segundo o protocolo normal (…). Uma criança ofereceu um ramo de flores [à Rainha]. A família real subiu para uma carruagem descoberta. O Rei e a Rainha sentaram-se atrás, com a Rainha à direita do Rei e os dois filhos à frente, de costas para os cocheiros, ficando o príncipe real diante de D. Carlos.
A carruagem real terá saído da estação fluvial (…) entrou na praça do Terreiro do Paço isolada, precedida dos dois batedores do costume (…). A carruagem ia bastante devagar (…). Debaixo das arcadas dos ministérios e na plataforma central (…) alguma gente (…) via passar o rei. A carruagem dirigia-se para a rua do arsenal.
Deviam ser 5 horas e um quarto (…) quando se ouviu um tiro. O Infante (…) viu então na plataforma central da praça “um homem de barba preta, com um grande gibão, tirar uma carabina debaixo das abas da capa braço, avançar para o meio da rua, colocar-se atrás da carruagem, apontar na sua direcção e disparar” (…). Nesse momento, irrompeu “uma perfeita fuzilaria” [e] foi nessa altura em que um outro homem saiu debaixo das arcadas do Ministério da Fazenda, correu para a carruagem, dependurou-se no estribo e disparou pelo menos duas vezes sobre o rei com um revólver (…). D. Amélia brandia o ramo de flores e gritava “infames, infames”. O Príncipe real empunhava um revólver (…). De repente (…) o Infante notou que algo se passava com o irmão. D. Luís Filipe, até então de pé, caíra na carruagem “tombando para o lado direito”. D. Manuel viu que o Príncipe tinha “uma ferida enorme na face esquerda de onde o sangue jorrava como uma fonte” (…).
Tudo, aparentemente, durou cerca de 5 minutos, segundo o registo de ocorrências na estação de bombeiros do Terreiro do Paço. Os bombeiros de serviço registaram às 5h20m: “Ouvimos agora muitos tiros, talvez uns vinte”; e logo às 5h22m, o comunicado de um bombeiro que acabara de chegar e vira “o rei esvaindo-se em sangue dentro da carruagem. Deve estar morto”.
Na década de 1980 uma peritagem à carruagem e roupa de D. Carlos e de D. Luís Filipe realizada pelo Laboratório da Polícia Científica de Lisboa (…) detectou a acção de duas carabinas e de duas pistolas, confirmando o testemunho daqueles que viram vários indivíduos disparando sobre a carruagem real. Terá havido um momento em que o cocheiro perdeu o controlo dos cavalos e provavelmente deixado parar a carruagem sob o tiroteio. Os tiros de que ficaram marcas na carruagem indicam que o rei e o príncipe real foram alvejados repetidamente (…)

campas de Manuel Buiça e Alfredo da Costa


Das memórias da Marquesa de Rio Maior

Uma das coisas mais horríveis e vergonhosas destes dias negros, foi a romagem que se organizou ao Alto de S. João, às sepulturas dos regicidas (…). O préstito fora organizado pela Associação do Registo Civil, que fornecia as flores.


Considerações de Guerra Junqueiro numa carta a um amigo espanhol datada de 10 de Fevereiro de 1908.
Não mataram o rei, suicidou-se (…) O rei era um monstro maléfico, perturbador de 4 milhões de criaturas. (…) O Partido Republicano nem organizou nem aconselho o atentado. O atentado foi obra única de dois homens (…) Foi um atentado nacional (…). Lamento de olhos enxutos a execução do monarca. Mas se tivesse o dom de o ressuscitar, não o levantaria do túmulo. E diante do cadáver dos homicidas descubro-me com frémitos de terror, lágrimas de piedade (…) de admiração e de carinho. Mataram? É certo. Ferozes? Sem dúvida. Mas cruéis por amor, ferozes por bondade (…) Estes dois corpos plebeus, varados de balas, crivados de golpes, irradiam amor, afecto, descanso para a nação inteira. Há um rei no trono. Mas hoje, nesta hora de liberdade e de clemência, pode dizer-se que são eles os dois regentes do reino.


A propósito do Regicídio, António Reis, numa entrevista que deu recentemente ao jornal Correio da Manhã, teceu as seguintes afirmações:


Hoje está provado que as mortes foram obra de um pequeno grupo de carbonário, que actuou à revelia, através de uma loja especial chamada “Coruja”. De resto, a Maçonaria condenou o regicídio pela voz de Magalhães de Lima [Grão Mestre de então]. Nem à Maçonaria, nem ao Partido Republicano interessava um acto que poderia reunir a classe política e atrasar a queda da Monarquia (…)


Nota: Para a redacção dos textos sobre o Regicídio, foram consultadas as seguintes fontes:
- BNP (2008), 1908, Do Regicídio à ascensão do Republicanismo, online [carta de Guerra Junqueiro]
- COLAÇO, Berta da Gonta (2005), Memórias da Marquesa de Rio Maior, edição Parceria António Maria Pereira, pág. 235 a 238 e 245
- CORROMEU, Francisco (2008), Do 28 de Janeiro de 1908 ao 5 de Outubro de 1910, conferência realizada na Biblioteca do Museu Republica e Resistência, Lisboa, 28 de Janeiro de 2008, online
- RAMOS, Rui (2006), D. Carlos, edição do Círculo de Leitores, pág. 315 a 317
- Site do GOL, www.gremiolusitano.eu, a 30 de Janeiro de 2010

Regicídio - 1 de Fevereiro de 1908

A crise profunda em que o sistema monárquico estava mergulhado – suspensão de grande parte do articulado da Carta Constitucional de 1826, o encerramento do Parlamento em Abril de 1907, o adiamento na marcação de novas eleições, o afastamento da área do poder dos dois principais partidos [Regenerador e Progressista], o Governo exercido em Ditadura [Ditadura de João Franco], as restrições à liberdade de imprensa – levaram a que o Directório do Partido Republicano evoluísse na sua linha política, passando a defender o movimento revolucionário como forma de deposição da Monarquia.
Marcado para o dia 17 de Janeiro, o movimento revolucionário contaria com o enquadramento militar da Marinha, já que muitos dos militares que aqui prestavam serviço tinham ligações aos Republicanos, bem como com os civis da Carbonária recentemente reorganizada. O adiamento da revolta para o dia 28 de Janeiro provocou tumultos em Lisboa e no Porto, como o rebentamento de petardos nas ruas de Santo António à Estrela e do Carrião [18 de Janeiro], e a prisão, entre outros, de António José de Almeida, João Chagas, Magalhães de Lima, Luz de Almeida, França Borges. O plano passou então pela libertação dos líderes republicanos, pela detenção de João Franco e, aproveitando o facto da família real se encontrar em Vila Viçosa, a ocupação dos principais quartéis de Lisboa para o que havia o apoio de muitos oficiais. O comando das operações estaria a cargo de Cândido dos Reis Machado dos Santos, Marinha de Campos e Soares Andrea. Porém, a conspiração foi descoberta e muitos dos seus implicados detidos, entre os quais Afonso Costa.
A revolução não se fizera e, pior do que isso, nomes grandes do Partido Republicano, da Maçonaria e da Carbonária estavam presos. A situação dos detidos tornar-se-ia ainda mais difícil com entrada em vigor do projecto de decreto de João Franco que deportava para Timor os republicanos presos.
O carbonário Alfredo Luís da Costa, inconformado com o sentido tomado pelos acontecimentos, em conversa com Marinha da Costa, considerou que a melhor maneira de lidar com o problema seria a liquidação de João Franco. Desta constatação deu conhecimento a Manuel Buíça e a Aquilino Ribeiro. Porém, era quase impossível chegar a João Franco que, por esses dias, andava bem guardado, trocando as voltas com muita facilidade. Como tinha várias residências, não se sabia em qual dormia. Mas uma coisa seria certa: ia esperar o rei à estação de barcos do Terreiro do Paço quando este regressasse de Vila Viçosa.