segunda-feira, 8 de março de 2010

Biografia de Adelaide Cabete

Adelaide de Jesus Damas Brasão, Cabete pelo casamento, nasceu em Elvas a 25 de Janeiro de 1867, no seio de uma família de trabalhadores rurais, ajudando a mãe nos trabalhos domésticos e na indústria caseira da secagem de ameixas. Quando, em 1885, casou com o sargento republicano e intelectual autodidacta, Manuel Ramos Fernandes Cabete, Adelaide não sabia ler nem escrever, começando a estudar aos 20 anos de idade. Incentivada pelo marido, em 1889 fez o exame da Instrução Primária, em 1894 acabou com distinção o curso dos Liceus para, no ano seguinte, realizar os exames de Física Superior, Química Orgânica e Química Mineral, necessários à entrada na Escola Politécnica. Em 1896 matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, formando-se em 1900, aos 33 anos, com a defesa da tese A protecção às mulheres grávidas como meio de promover o desenvolvimento físico das novas gerações.
Como médica, Adelaide Cabete norteou a sua actuação no apoio às mulheres grávidas, na divulgação dos cuidados materno-infantis, na melhoria das condições de vida das mulheres e das crianças, na defesa de um plano de cuidados básicos de saúde e no combate ao alcoolismo. Deste modo, para além das obras que publicou como Papel que o estudo da Puericultura, da Higiene Feminina deve desempenhar no Ensino Doméstico (1913), Protecção à Mulher Grávida e A Luta Anti-Alcoólica nas Escolas (1924), nas suas múltiplas intervenções Adelaide Cabete, para além de defender os direitos da mulher grávida, a protecção à mulher pobre, a educação das crianças, o combate ao alcoolismo e às doenças infecto-contagiosas, pugnava pela igualdade de direitos entre os dois sexos.
Para além de médica, Adelaide Cabete foi também professora de Higiene no Instituto Feminino de Odivelas e, como tal, alertou para o papel insubstituível desempenhado pelos educadores. Ao mesmo tempo que reclamava pelo ensino da puericultura e dos preceitos de higiene, reivindicava a construção de uma maternidade, concretizada posteriormente com a construção da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa.
Mas Adelaide Cabete foi também uma das grandes figuras do feminismo republicano. Depois de ter sido iniciada na Loja Maçónica, Humanidades, em 1907, passando a usar o nome simbólico de Louise Michel, integrou a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, ao lado de Ana de Castro Osório e Fausta Pinto da Gama, tornando-se numa das principais responsáveis pela consolidação da Liga nos primeiros anos da sua existência. Porém, a sua intervenção social e educativa ganhou maior visibilidade a partir de 1914 no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, de que foi a principal impulsionadora e presidente. Esta nova associação, que se reclamava apolítica e arreligiosa, tinha por objectivos “o melhoramento da situação legal da mulher na família e na sociedade; a abolição da regulamentação da prostituição; o melhoramento da Saúde Pública; a criação de gabinetes de consulta para profissões, educação e protecção a emigrantes sobretudo de mulheres e crianças; a protecção das crianças contra os maus tratos, trabalhos pesados e prostituição; a defesa da higiene da grávida e da puérpera.
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Como resultado do seu trabalho e da sua militância em prol das mulheres e das crianças, Adelaide Cabete participou em vários congressos feministas internacionais onde divulgou a situação da mulher em Portugal. Assim, em Maio de 1913, no Congresso Internacional de Ocupação Doméstica, realizado em Gand, apresentou uma comunicação intitulada Papel que o estudo da puericultura, da higiene feminina, do ensino dos primeiros cuidados em caso de acidente e da pedagogia maternal deve desempenhar no ensino doméstico, tendo por base a sua experiência como professora no Instituto de Odivelas. Em Maio de 1923, representou Portugal no Congresso Feminista de Roma, promovido pela Aliança Internacional para o Sufrágio da Mulher, reivindicando o direito ao voto feminino, uma vez que as mulheres portuguesas já tinham obtido a Lei do Divórcio e o direito à investigação da paternidade e da família. Neste congresso foi também abordada a questão da educação sexual e da protecção da mulher e da criança face às doenças venéreas, propondo-se que a Educação Sexual fizesse parte dos programas de pedagogia das Escolas Normais. Em 1925, mais uma vez Adelaide Cabete representava Portugal em fóruns do feminismo internacional, agora em Washington, no Congresso Internacional das Mulheres. Aqui, continuando a pugnar pela necessidade e importância da educação moral e social, defendeu o direito da mulher aceder aos cargos de topo na hierarquia do ensino, bem como a criação de uma polícia feminina que se dedicasse especialmente à assistência moral, social e educativa da mulher e da criança.
Em Maio de 1924 foi responsável pela organização do I Congresso Feminista e de Educação, apresentado duas comunicações, Protecção à mulher grávida e à criança e A luta anti-alcoólica nas Escolas, onde voltava a reivindicar o repouso de um mês para as grávidas antes do parto, o criação de uma maternidade em Lisboa, de sanatórios para grávidas e de creches e asilos para a infância, bem como campanhas anti-alcoólicas nas escolas e liceus portugueses. No II Congresso Feminista, que decorreu já no período da Ditadura Militar, em 1928, Adelaide Cabete, na comunicação O Ensino da Puericultura na escola Infantil, defendeu a necessidade de transmitir conhecimentos básicos às crianças de tenra idade, pois muitas delas, provenientes das camadas mais desfavorecidas da sociedade, nunca chegariam às escolas elementares. O ensino da puericultura era um assunto muito caro a Adelaide Cabete, pois para além de anos antes, ter introduzido esta disciplina no Instituto Feminino de Educação e Trabalho, no ano lectivo 1924/1925 e na Universidade Popular Portuguesa, dirigira um curso para mães intitulado Higiene e puericultura.
Adelaide Cabete participou na organização do Primeiro Congresso Abolicionista Português, reafirmando as teses da inglesa Josefina Butler, da francesa Mme Avril de Saint-Croix e da uruguaia Palulini Luisi. Por ocasião do Segundo congresso, realizado em 1929, apresentou uma comunicação subordinada a um tema muito em voga na altura, A Eugénica e a eugenética. Por sua iniciativa, em 1928, é fundada a Associação das Mulheres Universitárias de Portugal e, neste mesmo ano, aderiu à campanha em prol das famílias dos presos, deportados e emigrados políticos, levada a cabo pelo jornal republicano O Rebate.
Os jornais e as revistas não estiveram distantes do seu universo de trabalho, uma vez que, entre 1920 e 1929, dirigiu a revista Alma Feminina, onde publicou numerosos artigos. Porém, subitamente, em 1929, acompanhada pelo sobrinho Arnaldo Brazão, abandonou Portugal partindo para Angola onde viveu até 1934. Nesta colónia portuguesa, Adelaide Cabete, para além de se dedicar à medicina, continuou a colaborar em jornais, defendendo a criação de maternidades e de beneficências, bem como a assistência à criança indígena.
Membro da Sociedade das Ciências Médicas, com consultório médico na baixa lisboeta, onde muitas vezes decorreram reuniões do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e da Liga Portuguesa Abolicionista, Adelaide Cabete está também associada à implementação das Ligas da Bondade em Portugal, consideradas como um importante instrumento educativo das crianças, bem como aos movimentos em defesa da Paz Universal. O nome e a personalidade de Adelaide Cabete foram reconhecidos além fronteiras, tendo a espanhola Clara Campoamor, em 1928, feito o seu elogio nas páginas da imprensa daquele país.
Um ano depois de ter regressado a Lisboa, fechava os olhos a 19 de Setembro de 1935, aquela que em 1910, juntamente com outras duas companheiras, coseu e bordou a bandeira nacional hasteada na Rotunda, aquando da implantação da Republica. E se em 1912, Adelaide Cabete reivindicou o voto para as mulheres, em 1933 foi a primeira e única mulher a votar em Luanda a Constituição Portuguesa que enquadraria o período também designado por Estado Novo.
Nota: para a elaboração deste artigo, foi consultada a seguinte biografia
ESTEVES, João, Adelaide Cabete, in Dicionário de Educadores Portugueses, Edições Asa, 2003, pág.203/206
www.laicidade.pt
EDUARDO, Joaquim, Adelaide Cabete, uma professora feminista in www.aph.pt
[1] In ESTEVES, João, Dicionário dos Educadores Portugueses, pág. 204

5 comentários:

  1. este texto e bem grande kredo

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  2. Será assim tão difícil ler o texto anterior?! Será que as pessoas não querem trabalho algum?!...Esta MULHER é um grande exemplo, pois nunca se poupou a esforços...
    Nestes tempos actuais, é verdade, valoriza-se o facilitismo e é pena, porque do trabalho é que vem tudo!...ou melhor deveria ser assim, mas com tantas modernices,actualizações, protecções,compadrios, cunhas ... tudo se vai mudando como diz o poeta "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades..."

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  3. é mais facil beber leite do que ler isso

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