quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

31 de Janeiro de 1891

A cidade do Porto está intimamente ligada a movimentações republicanas saídas do Ultimatum. Foi aqui que, em 1890, se constituiu a efémera Liga Patriótica do Norte e aqui se realizaram as reuniões conspiratórias que Santos Cardoso levou a cabo com sargentos da guarda-fiscal com a finalidade de um levantamento militar.
Em 1876, Santos Cardoso, Alves da Veiga, Rodrigues de Freitas, Sampaio Bruno, entre outros, tinham fundado o Centro Eleitoral Democrático que, no seu manifesto de apresentação, considerava desnecessário o recurso à revolução. Porém, nem todos associados pensavam do mesmo modo. Santos Cardoso e Alves da Veiga perfilhavam uma posição bem mais radical e defendiam a revolução. Três anos mais tarde, em 1879, os republicanos radicais passaram a contar com o seu Centro Republicano Radical, desenvolvendo um trabalho de propaganda verdadeiramente revolucionário.
Durante a década de 80 do século XIX, a ideia da revolução será defendida em alguns jornais portuenses como o Folha Nova e o Radical, este último dado à estampa em 1888, com alguns dos seus colaboradores a estarem na génese do Partido Republicano Radical entretanto formado.
No Porto, em finais da década de 80, coexistiam duas correntes republicanistas. Uma radical e adepta da revolução armada, sentida como a única forma capaz de substituir a Monarquia pela República. A outra, mais moderada e evolucionista, considerava ser possível o trabalho político num regime monárquico, isto é, defendia a transformação do regime por dentro, estando bem mais próxima do pensamento oficial do Directório de então do Partido Republicano.
O Ultimatum, porém, apanhou de surpresa os dirigentes nacionais do Partido Republicano que, tendo como presidente o grão-mestre da Maçonaria, Elias Garcia, embarcaram, numa primeira fase, nos arroubos dos radicais portuenses. Em inícios de Janeiro de 1891, o Directório do Partido Republicano foi ganho pela facção de Homem Cristo, passando a mostrar-se hostil ao desencadear de uma revolução, considerando-a até como uma provocação monárquica.
Nos últimos dias de Janeiro de 1891, Alves da Veiga e Santos Cardoso, conscientes da falta de apoio por parte das cúpulas republicanas, procuraram inflectir o sentido dos acontecimentos e desmobilizar os militares implicados na sublevação. Poucos militares de patente tinham estado presentes nas reuniões conspirativas, podendo apontar-se como excepção o Capitão Leitão (natural dos arredores de Viseu), o tenente Coelho e o Alferes Malheiro. Os oficiais não estavam sensibilizados para uma revolução que iria destruir o regime e provocar focos de instabilidade. Foram sim os sargentos no Porto que impuseram a ideia revolucionária a Santos Cardoso, a Alves da Veiga e ao Directório de Elias Garcia. Foram eles que forçaram a antecipação do movimento depois de terem tomado conhecimento da transferência de soldados por ordem do Ministério da Guerra. Foram eles ainda que se insurgiram e comandaram os soldados. O comando militar do dia 31 de Janeiro passava assim para as mãos dos sargentos.

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